Fotos: Leo Munhoz/Secom
Texto: Christiano Vasconcellos/Secom
Aos 50 anos de idade, Alex Sandro Soares, encarregado de manutenção em uma clínica médica de Itajaí, está realizando um sonho de menino: fazer o curso de direito na universidade. Ainda jovem, ele abdicou de cursar a faculdade para ajudar a família com o pagamento das despesas da casa e agora a oportunidade de retomar os estudos veio com o programa Universidade Gratuita. O que causava constrangimento deu lugar ao sentimento de orgulho, e o trabalhador e pai de família é só felicidade com a nova chance. “A gente passa a andar de cabeça erguida”, comemora.
Quando criou o Programa Universidade Gratuita, em 2023, o governador Jorginho Mello tinha como objetivo dar oportunidade de pessoas menos favorecidas financeiramente estudarem o ‘curso dos seus sonhos’. Até 2026, a iniciativa prevê investir R$1,2 bilhão com 70 mil vagas no ensino superior.
“Muitas vezes, a pessoa não tem a condição necessária para escolher o caminho profissional que faz o olho brilhar e aí fica frustrada, infeliz. A gente quer dar a oportunidade, ajudar a realizar o sonho, porque no final, todos ganham de uma forma ou de outra, quanto mais realizado um profissional é, mais ele entrega, ainda mais aqui em Santa Catarina”, disse o governador Jorginho Mello.
Por meio do programa, as pessoas estão desengavetando os sonhos, ingressando ou voltando ao ensino superior depois de anos de espera. É o caso do Alex Sandro Soares, que parou de estudar aos 10 anos, depois da morte do pai, para ajudar nas contas de casa. Ele é gaúcho e foi morar em Itajaí, no Litoral Norte catarinense, há seis anos, depois de um revés profissional. Fez supletivo e agora, quatro décadas depois, aproveitou o Universidade Gratuita para finalmente realizar o sonho de cursar Direito e se tornar advogado.
“Se não fosse o Universidade Gratuita eu não estaria aqui. O que mudou na minha vida? Externamente nada, eu continuo na minha vida. Mas aqui dentro (bate no peito) mudou tudo. Quando tu não tem estudo, tu se sente inferior, se sente de uma certa forma envergonhado. Tu vai concorrer a uma vaga de trabalho, tu vai preencher teu currículo e escreve ‘escolaridade ensino fundamental incompleto’, lá dentro, por mais que tu não assuma, não admita, tu tem uma dor. E essa dor acabou. Mudou a minha vontade, a minha alegria. É um sentimento que eu nunca tinha experimentado de orgulho, eu tenho orgulho de mim”, revela Alex.
O orgulho que ele sente também está no peito da esposa, dos dois filhos e até da netinha de Alex, a pequena Cecília, de apenas 3 anos. Curiosa para ver a “escola” do avô, ela faz chamadas de vídeo para ele no meio da aula e diverte a turma da sala 202, do bloco D, da Univali, em Itajaí, universidade credenciada no Universidade Gratuita.
“Quando ela (a neta) vai lá em casa, ela vê meus livros e cadernos todos organizadinhos. E essa coisa mexe com a gente em todos os sentidos. É uma alegria, uma coisa tão gostosa, a gente passa a andar de cabeça erguida. Antes eu era aquele cara escondido, porque só tinha a quarta série”, relata o futuro bacharel, que pela regra do Universidade Gratuita vai retribuir o investimento com trabalho semanal para a sociedade catarinense, na área em que se especializar.
Alex tem uma rotina puxada: acorda às 5h e estende a rotina de trabalho e estudos até perto da meia-noite, quando chega em casa. Mas a maratona está mais para prazer do que para sacrifício, segundo ele. E para cumprir essa jornada, ele conta com o apoio da esposa, a diarista Keila Grubert Soares, com quem é casado há quase 30 anos.
“Eu sinto muito orgulho dele, porque ele é um excelente marido, um ótimo pai e eu sempre vou apoiar ele em tudo que ele decidir. A gente trabalha pra pagar nossas contas, adquirir alguma coisa, e só. Mas a Universidade Gratuita foi fundamental para ele começar a fazer a faculdade. Se não tivesse essa possibilidade, ele não iria fazer (o curso) e esse sonho ia ficar guardado na gaveta”, diz Keila.
A partir do exemplo de Alex, o número de estudantes da família pode aumentar a partir do ano que vem. É que o filho do casal, o vendedor Alex Sandro Soares Junior, de 22 anos, vai seguir o exemplo do pai e pretende voltar à sala de aula. Com muito sacrifício, ele fez dois anos do curso de Direito, mas chegou uma hora que não deu mais para pagar. Agora vai optar por Comércio Exterior, também por intermédio do Universidade Gratuita – o maior programa de formação superior da história de Santa Catarina. Um ajuste na rota da vida profissional, com alívio para o bolso de quem ainda sofre para fechar as contas.
“Vendo o pai fazer, querendo ou não, ele deu aquela instigada de fazer junto. E no próximo ano eu já pretendo fazer sim e pelo Universidade Gratuita”, admite Junior.
Somente no segundo semestre de 2024, mais de 23 mil estudantes foram beneficiados pelo Universidade Gratuita. Todos eles, ao final do curso devem devolver ao estado uma contrapartida em forma de trabalho equivalente ao número de meses estudados e custeados com o dinheiro público.
“O Universidade Gratuita veio para expandir, para furar a bolha de fato, de um público que, historicamente, sempre teve acesso à educação superior. E ele veio trazer esse outro grupo, que até então, por uma questão econômica, de dificuldades de locomoção, algum tipo de deficiência, não conseguia ter o acesso à universidade. Então, a gente percebe nessas histórias que a universidade também está mudando. Esse público que chega, como o Alex, ele acaba transformando o jeito de fazer universidade. As universidades estão vivendo esse momento de repensar todo esse formato e se tornar cada vez mais diversa, plural e igualitária”, analisa a coordenadora de Atenção ao Estudante da Univali, Fátima Catarina Barbi.
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