A cotação do dólar em relação ao real deverá continuar sujeita a oscilações ao longo de 2025, devido a diversos fatores internos e externos, acreditam analistas do mercado. Para Maurício Mendes Dutra, conselheiro administrativo da Fictor Alimentos, entre os principais elementos que influenciam a trajetória da moeda americana estão a política monetária dos Estados Unidos, a situação fiscal do Brasil, o desempenho da economia chinesa e os desdobramentos de conflitos geopolíticos. São esses os principais pontos que ele tem levado em consideração em seu dia a dia como executivo.
As tensões internacionais ganharam maior peso nas últimas semanas, após o presidente Donald Trump impor tarifas escalonadas sobre produtos de diversos países, todos eles com déficits comerciais consideráveis com os Estados Unidos. A decisão, com efeito muito mais rápido do que era esperado, provocou uma forte aversão ao risco nos mercados globais, com destaque para o dólar.
A depreciação do câmbio reflete o tom pessimista dos investidores, que observam um horizonte com uma combinação perigosa entre inflação e estagnação econômica, que se desdobra até mesmo em uma recessão.
Na avaliação de Mendes Dutra, embora o real tenha se valorizado em relação ao dólar no curto prazo, devido à queda da moeda americana, o Brasil continua suscetível às flutuações do comércio global e às escolhas políticas externas, que podem impactar diretamente sua economia.
“Antes de Trump retornar à presidência da maior economia global, ao olharmos para 2024, a manutenção de juros elevados nos EUA foi um dos principais fatores que fortaleceram o dólar, tornando os ativos americanos mais atraentes para investidores globais. Isso resultou na diminuição do fluxo de capitais para mercados emergentes, como o Brasil, e na redução da oferta de dólares no mercado interno, por conta da diminuição do diferencial de juros entre os dois países”, explica o executivo.
Um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta que o aumento das tarifas resulta em uma apreciação da taxa real de câmbio proporcional ao incremento das tarifas, por exemplo. A pesquisa analisou dados de 151 países entre 1963 e 2014.
Histórico
Entre 12 e 26 de dezembro de 2024, o Banco Central do Brasil realizou intervenções no mercado cambial que somaram US$ 26,7 bilhões, uma tentativa de controlar a valorização da moeda americana.
A oscilação do real entre R$ 4,85 e R$ 6,20 por dólar entre 2023 e 2024 evidencia a fragilidade da moeda brasileira frente aos desafios econômicos internos e externos e a razão pela qual as intervenções foram feitas.
“A percepção de risco por parte dos investidores estrangeiros, somado ao aumento dos gastos públicos sem contrapartidas sólidas de arrecadação, tem gerado preocupações sobre a sustentabilidade da dívida pública brasileira, o que pressiona a moeda nacional”, ressalta Dutra. Ele complementa dizendo que a alta carga tributária e a complexidade regulatória também são fatores que dificultam o ambiente de negócios no país, afetando os investimentos de longo prazo.
Dutra destaca ainda que a economia chinesa tem um impacto relevante na taxa de câmbio no Brasil. Com a desaceleração do crescimento chinês, houve uma queda na demanda por commodities brasileiras, como soja e minério de ferro, o que reduziu a entrada de dólares no país. Além disso, a diversificação dos fornecedores globais pela China tem diminuído a dependência das exportações brasileiras, afetando negativamente a balança comercial.
Maurício Mendes Dutra avalia três cenários possíveis para a taxa de câmbio do dólar em 2025. No cenário mais otimista, caso o Brasil avance com reformas estruturais e os EUA iniciem um ciclo de afrouxamento monetário, o real pode se fortalecer, com a taxa de câmbio oscilando entre R$ 4,80 e R$ 5,10. Em um cenário mais pessimista, se os juros americanos permanecerem elevados e o Brasil não avançar em sua agenda fiscal, o dólar pode superar os R$ 6,00. No cenário base, com uma acomodação moderada da política monetária americana e avanços graduais na economia brasileira, a taxa de câmbio deve variar entre R$ 5,30 e R$ 5,70.
Para mitigar os riscos cambiais, ele defende a adoção de reformas fiscais e administrativas, o fortalecimento das relações comerciais com outras economias e o estímulo ao desenvolvimento do mercado de capitais local. Além disso, destaca a importância da manutenção de reservas internacionais robustas e do incentivo a investimentos produtivos como estratégias fundamentais para conter a volatilidade da moeda e promover maior estabilidade econômica.
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